domingo, 18 de abril de 2010

Jovens sem futuro

por António Gaspar, Professor Universitário e Consultor

A qualidade do futuro de qualquer país, está na forma como no presente os seus jovens são tratados. Muito se tem falado na crise e nos seus efeitos nefastos sobre o emprego, mas gostaria de sublinhar, e para o caso português em particular, que a vergonha que se vive no mercado de trabalho vem já de muito longe. É perfeitamente legítimo que uma família, faça sacrifícios e aposte na formação e qualificação profissional dos seus descendentes, proporcionando-lhes ferramentas adequadas para uma vez no mercado de trabalho, poderem atingir um grau de desempenho sempre crescente, beneficiando com a sua produtividade a empresa para a qual trabalham e num segundo fôlego, a sua ascensão profissional. Mas afinal o que é que tem acontecido? Temos jovens licenciados desempregados, que segundo as últimas estatísticas chegarão aos 40.000 e com tendência para o crescimento. Numa segunda linha, e porque tiveram "mais sorte" temos um regimento de jovens a receber entre os 600 e os 750 euros! E depois, teremos certamente uma parte infinitesimal, que terão uma profissão que lhe retribui decentemente a forma como aportam as suas competências. Relativamente à geração dos "600" ou dos "700" ou do ‘outsourcing', é interessante observar que as empresas que contratam o preferem fazer aos ‘outsourcings' pagando, em média, quase o dobro, que estas pagam os jovens. Não me refiro de forma negativa ao negócio do ‘outsourcing', pois se existe é porque o mercado assim o determina e estas empresas aproveitam aquilo que o mercado quer. A minha visão crítica vai para as empresas que recorrem a estes ‘outsourcings': Pois se no sentido contrário, fizessem contratos directos com os jovens, com direito a férias efectivamente gozadas, subsídios de Natal e de férias, por natureza as empresas ditas de trabalho temporário nem sequer existiam, porque não registariam qualquer procura dirigida.Ao tomar esta atitude, as empresas estão a dizer de forma clara aos jovens que não têm futuro em Portugal. Qual é o jovem que com 600 ou 700 euros pode ter a "veleidade" de constituir família, de comprar uma casa ou de assumir outros compromissos normais para a sua idade? Mas a baixíssima remuneração não será tudo. Os jovens vivem permanentemente com a "espada de Demócles" sobre as suas cabeças, que é como quem diz, de uma quinzena para outra podem ver esses míseros 600 euros extinguirem-se. É este o Portugal que querem para os jovens? Portugal não tem futuro para os jovens, como o não tinha já há 5 anos e como o não terá na próxima década, se a situação não se alterar de forma radical. Eu sei que estas situações não se alteram por decreto. Alteram-se por um novo sentido de cidadania, ético e responsabilidade. E quanto mais tarde esta alteração tiver lugar, mais pobre vai ficando o nosso país. Um país em que a sua juventude não tenha oportunidades nem gosto em viver, é um país condenado. Condenado pelas elites empresariais que não souberam tratar com respeito os seus jovens, porque um salário de 600 euros com uma total precariedade à sua volta, é uma ofensa grave para os jovens filhos de uma nação. A todos esses jovens, manifesto o meu mais profundo sentido de solidariedade e faço um apelo: se o vosso país os não merece, que partam para outro local onde as vossas competências e empenho, tenham um tratamento adequado e em linha com o que merecem.


Não pude deixar de partilhar... :(

2 comentários:

fd disse...

Os “títulos” cada vez valem menos. Pelo que oiço, quem emprega tenta pagar o mínimo possível, com tácticas de exploração vampíricas, enquanto houver uma gota de sangue. Só vejo a possibilidade para, nessas circunstâncias, o empregado fazer valer a sua posição através das mesmas armas, ou seja, a exigência de condições e a mudança para outro sítio melhor. E em paralelo, a conquista de uma posição através da competência. Claro que já se sabe de quem é a posição mais fraca, com menos flexibilidade, se não tiver almofadas de segurança. E a antiguidade continua a ser um posto.

eva disse...

É um ciclo vicioso... Vai levar muito tempo a ir ao sítio... se chegar a ir alguma vez :S